Lançamento Boitempo: Lenin, de György Lukács

A Boitempo Editorial lançou na semana passada o livro de György Lukács sobre Vladimir Ilyich Lenin. Com apresentação de Miguel Vedda, Lenin: um estudo sobre a unidade de seu pensamento foi escrito em 1924. A edição brasileira conta com posfácio de Lukács escrito em 1967. O livro será lançado em breve em ebook, assim como os outros livros do autor já lançados pela Boitempo (Prolegômenos para uma ontologia do ser social e O romance histórico). Está previsto para o segundo semestre de 2012 a esperada edição da Ontologia do ser social, primeira tradução para o português da obra.

Leia abaixo o texto de orelha de Lenin, escrito por Carlos Nelson Coutinho:

O fascínio de Lukács pela ação e pela personalidade de Lenin, tão claramente expresso neste pequeno livro de 1924 – escrito logo após a morte do líder revolucionário –, acompanhou-o até o fim de sua longa vida. Lenin foi sempre o
exemplo recorrente que o mestre húngaro usava para definir não só como um ator político revolucionário deve articular teoria e práxis, mas também como deve construir uma personalidade capaz de superar o ascetismo sem perder de vista a fidelidade aos princípios. Esse fascínio continuaria presente, como podemos ver, no importante posfácio que Lukács escreveria em 1967 para a reedição alemã do seu livro e que é aqui reproduzido.

Essa fidelidade aos ensinamentos e à prática de Lenin, contudo, não impede o Lukács tardio de avaliar criticamente o seu velho livro, escrito num momento em que se vivia na atmosfera da “atualidade da revolução” (título do primeiro capítulo de Lenin), ou seja, na expectativa de uma iminente extensão ao Ocidente do processo revolucionário vitorioso na Rússia em 1917. Em função dessa atmosfera, que Lukács partilhava com a maioria do movimento comunista de então, não me parece casual que seu pequeno livro não leve na devida conta
as cautelas que Lenin, no fim de sua vida, assumiu diante dessa “atualidade da revolução”: é conhecida a sua afirmação de que, se na Rússia fora fácil tomar o poder e seria difícil construir o socialismo, nos países mais desenvolvidos ocorreria o inverso, com o que o líder revolucionário revelava a sua percepção (ainda embrionária) de que era necessário elaborar uma nova estratégia revolucionária para o Ocidente.

O fato de que temos em mão um livro “datado”, como o próprio Lukács o admite em 1967, não significa de modo algum que ele tenha perdido a sua importância. Por um lado, trata-se de um texto em plena sintonia com História e consciência de classe, publicado em 1923, e que ajuda assim a caracterizar a primeira fase do Lukács marxista. Por outro, constitui uma significativa contribuição para o resgate de um importante momento na história do movimento comunista, precisamente aquele em que, na esteira da Revolução de Outubro, se vivia a expectativa da “atualidade da revolução”.

Mas a importância biográfica e histórica não esgota o significado de Lenin: um estudo sobre a unidade de seu pensamento. Nele são apresentadas, com clareza e competência, algumas das principais conquistas teóricas do líder bolchevique, como a teoria do partido revolucionário, a definição da etapa imperialista do capitalismo e a importância por ele atribuída à necessidade de “fazer política”, que se expressa no que Lukács chamou de “realpolitik revolucionária”. Este pequeno livro nos dá assim mais uma ocasião para confirmar a enorme significação teórica de Lenin para o marxismo, o que nem sempre é hoje devidamente reconhecido.

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