Lançamento Boitempo: Crítica do Programa de Gotha, de Karl Marx

Lançamos no final de fevereiro o 13º título da Coleção Marx-Engels: Crítica do Programa de Gotha, de Karl Marx (com tradução e organização de Rubens Enderle e apresentação de Michael Löwy). A versão em ebook é o primeiro título da Coleção Marx-Engels publicado no formato ePub e custa metade do preço do livro impresso (já disponível na Livraria Saraiva e Gato Sabido). No final de março chegará às livrarias o 14º título da coleção: O socialismo jurídico, de Friedrich Engels (com apresentação de Márcio Naves e texto de orelha de Alysson Mascaro). Aguarde!

Confira abaixo o texto de orelha escrito pela professora da UFF Virgínia Fontes:

O comentário de Marx sobre o programa que sacramentaria – em 1875, na cidade de Gotha – a unificação dos dois partidos operários alemães é denso, provocativo e conserva ainda hoje seu vigor. Coerência e ousadia marcam o texto, enriquecido nesta edição por um conjunto de anexos e complementos de leitura obrigatória.

Coerência da trajetória teórica de Marx e de Engels, ao exigir que o penoso aprendizado extraído dos processos históricos – conhecimento teórico e prático, forjado nas lutas operárias do século XIX – não resultasse aligeirado por interpretações oportunistas ou personalistas. Coerência ao respeitar a inteligência da classe trabalhadora, a qual, sem encontrar em seu partido os ecos mais expressivos de sua experiência, arriscava o retrocesso de suas próprias formulações. Coerência ainda na perseverança e “honradez” com relação ao uso – e crítica quanto ao abuso – de conceitos que não decorriam de nenhuma linhagem férrea (ou de “bronze”, como queria Ferdinand Lassalle), e sim de uma ciência rigorosa porém densamente plástica. Uma ciência social distante de cientificismos rígidos e unilaterais, que reitera uma historicidade na qual se enraízam as condições da transformação revolucionária. Longe de esquematismos – tão caros ao cientificismo de diferentes matizes, desde o positivista e seus desdobramentos até os variados relativismos –, Marx demonstra nesta Crítica do Programa de Gotha uma radicalidade que não perde de vista a diversidade da composição social (e o papel das distintas classes e frações), assim como a inter-relação entre processos históricos nacionais e um internacionalismo apto a enfrentar as condições do mercado mundial e do “sistema de Estados”. Entende a relevância da luta política, mas revolta-se contra a tendência a suprimir a autonomia da classe trabalhadora e a torná-la  dependente do Estado.

Segue intacta a ousadia de Marx, em 1875 já distante da juventude. Sua madurez reaviva o frescor do enfrentamento à rigidez característica dos acólitos ou dogmáticos, rigidez que transparece no Programa de Gotha, embora recheada de termos aparentemente revolucionários. Se Marx reconhece que os atos e processos sociais são mais importantes do que os programas de partido, sabe – e insiste em dizê-lo, juntamente com Engels – que a pauta que se constrói na luta tem relevância; que o pensamento e as plataformas de ação não são inócuos. 

Em poucas páginas são revisitados de maneira arrojada e provocativa temas como o valor de uso, a natureza e o trabalho; o papel dos trabalhadores no conjunto da vida social; o internacionalismo; a justiça, o direito e suas limitações; as condições da luta de classes e suas alianças nacionais e internacionais; a tensa relação com o Estado. Sobretudo, Marx reafirma a importância de esclarecer as classes trabalhadoras sobre a complexidade da transformação revolucionária em direção a uma sociedade na qual seja possível ter “de cada um segundo suas capacidades, [assegurando] a cada um segundo suas necessidades”.

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