As aventuras do sapo Gonzalo e Luiz Bernardo Pericás no Blog da Boitempo

Desde a sua renovação em abril de 2011 o Blog da Boitempo vem contando com a colaboração mensal do historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica (que acaba de ganhar Menção Honrosa no Prêmio Casa de las Américas 2012, de Cuba, onde será publicado este ano). Em sua coluna, Pericás apresenta as desventuras do sapo Gonzalo, um mal humorado sapo argentino.

Confira abaixo os links de todas as aventuras do sapo Gonzalo publicadas até agora:

As aventuras do sapo Gonzalo contra Yoani Sánchez | 08 de abril de 2011

Estava tomando uma cerveja no Bar do Joaquim, uma pocilga no centro da cidade, quando seu Gonzalo entrou no recinto, soltando fumaça pelas ventas, como de costume.  Deixem-me aqui apresentar meu amigo. Seu Gonzalo era um sapo argentino. Grandes olheiras, barba por fazer, cabelos grisalhos, fumava sem parar um cigarro sem filtro.  Parecia sempre contrariado. Militante de esquerda, havia fugido de seu país durante a ditadura militar, saltando através das fronteiras de todas as nações sul-americanas com suas longas e agéis pernas de batráquio acrobata. [leia mais]

O sapo Gonzalo no Sítio da Dona Benta | 13 de maio de 2011

Gonzalo, o indefectível batráquio argentino, entrou em casa, exausto, deixou o casaco em cima do sofá e caminhou lentamente até o quarto. Sempre quisera morar no campo: o ar puro, o leite morno na mesa do café da manhã, os raios de sol entrando pela janela… Mas acabara naquela quitinete infecta, no centro da cidade. Tudo bem… Ainda tinha esperanças de que sua sorte mudaria e que em algum momento sua vida daria uma guinada para melhor. De qualquer forma, aquele era seu “lar”, o único que possuía, e era nele que andava agora, a passos pesados: se arrastava. Cheiro de tabaco na roupa; a barba por fazer, como sempre; e a cabeça… girava e girava, talvez por ter fumado demais durante todo o dia. Quatro pacotes inteiros, da marca mais vagabunda! Isso não é coisa para amadores! Tinha de dar um tempo no seu vício. Tossia. [leia mais]

O sapo Gonzalo vai ao Rio | 17 de junho de 2011

Chutou uma lata jogada na rua e machucou o pé… Acordara tarde e de mau humor naquele dia nublado: a cara amassada era a evidência irrefutável de horas e horas mal dormidas na noite anterior. E da ressaca fenomenal que o atingira como um soco no plexo solar.  A cabeça doía. É verdade que fora à “Cidade Maravilhosa” para descansar, tirar uns dois ou três dias de folga, quem sabe pegar uma praia. Afinal, ninguém é de ferro. Mas a gastrite e a esofagite não davam trégua. Nem o mormaço cinzento e úmido que parecia aplastar os cidadãos que iam e vinham naquela avenida, no centro da antiga capital. [leia mais]

O encontro do sapo Gonzalo com Butch Cassidy | 22 de julho de 2011

Era o quinto copo de Guiness que tomava aquela noite. Não sabia há quanto tempo estava sentado naquele banco de madeira, diante do balcão, noFinnegan’s Pub, nem quanto tempo mais ficaria ali. O que mais o incomodava naquele momento, na verdade, era não poder fumar. Como sempre. Lembrava-se que no começo dos anos noventa, nos Estados Unidos, queriam retirar “digitalmente”, por meio de programas de computador, os cigarros até dos clássicos do cinema. Não haviam chegado a tanto. Mas Gonzalo ficara sabendo que em Nova Iorque, nos dias de hoje, as autoridades locais estavam proibindo que se fumasse também nos parques e praças da cidade. Ao ar livre! Era muito para ele… [leia mais]

O sapo Gonzalo visita a Austrália | 19 de agosto de 2011

Ao passar diante da vitrine de uma agência de viagens, na Avenida São Luiz, viu um pôster da ensolarada Austrália e decidiu que era para lá mesmo que iria. A ópera de Sydney e a Costa Dourada eram motivos suficientes para tirá-lo da letargia dos últimos tempos e estimulá-lo a partir rumo ao outro lado do planeta.  [leia mais]

O sapo Gonzalo e Corto Maltese nos mares do sul | 16 de setembro de 2011

Navegavam pelo Mar de Salomão em velocidade constante de oito nós.  Já haviam passado pelo Arquipélago de Louisiade e agora roçavam a costa da Nova Bretanha.  Corto Maltese conhecia como ninguém cada palmo da distante e isolada região, desde quando aquela ilha vulcânica, terra dos temíveis Duk-Duk, no Arquipélago de Bismarck, ainda se chamava Nova Pomerânia.  Kandrian, Gasmata e Totongpal haviam ficado para trás.  Na mesma linha geográfica de Sampun, se dirigiam agora para a parte sul da Nova Irlanda, e de lá, para o vasto oceano. [leia mais]

O sapo Gonzalo em: Brutti, Sporchi e Cattivi | 07 de outubro de 2011

O sapo Gonzalo já começava a se arrepender de ter ido àquela festa… Eu havia sido convidado pelo desembargador Peixoto para um cocktail em homenagem a uma fuinha conhecida, a professora Lívia Weiss, que acabara de se tornar professora emetretriz da Universidade de São Priápico. Perguntei ao anfitrião se podia levar um amigo, e ele concordou. Agora estávamos naquela mansão no bairro do Surumby (um dos mais chiques da cidade), com a nata da pseudo-intelectualidade local e a crème de la crème do meio político e artístico da República do Repolho. [leia mais]

Gonzalo, Malcolm e Fidel | 11 de novembro de 2011

O Hotel Theresa foi o mais alto, belo e imponente edifício do Harlem durante seis décadas.  Com seu estilo neorrenascentista, onze andares e trezentos quartos, destacava-se das construções à sua volta e chegou a ser comparado até mesmo ao Waldorf Astoria.  Ainda que durante um bom tempo a gerência só aceitasse hóspedes brancos e algumas poucas celebridades negras, a partir dos anos quarenta os novos donos, desta vez afro-americanos, mudaram a cara do lugar.  O fato é que o Harlem entrou num processo de decadência e empobrecimento paulatinos, especialmente nos anos vinte, levando boa parte dos moradores endinheirados a se transferir para bairros distantes dali.  Por outro lado, enquanto ocorria esse processo de pauperização e depreciação imobiliária, a população negra começava a afluir em grande número para os prédios residenciais e negócios locais, e tomou conta da área.  Eram trabalhadores, migrantes, em sua maioria da Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia.  Entre 1920 e 1930, em torno de 118. 792 moradores brancos se mudaram de lá, enquanto, no mesmo período, 87. 417 negros chegaram para viver naquele bairro.  Foi então que o Harlem tornou-se, de fato, a “capital” da Black America.  Entre seus mais emblemáticos landmarks, como o Cotton Club, o Savoy Ballroom e o Apollo Theater, o Theresa certamente também deve ser incluído. [leia mais]

O sapo Gonzalo no zoológico humano | 16 de dezembro de 2011

Todos diziam que aquela era a época mais feliz do ano. Mas ele desconfiava que isso não fosse verdade. Por trás da opulência, havia lama. As ruas iluminadas, lojas enfeitadas com adereços verdes e vermelhos, bolas de porcelana dourada, cintilantes; pinheiros de plástico importados do Paraguai; pessoas indo e vindo, carregando presentes. O ritmo alucinado de dezembro.  No tórrido verão tropical, fingiam estar em algum país escandinavo, as decorações em cada canto da cidade lembrando as terras geladas do norte europeu. O Bom Velhinho, de longas barbas brancas, pesadas botas de couro, luvas de pelica e gorro de lã, parecia que ia derreter. Quase desmaiava de calor. [leia mais]

O sapo Gonzalo em: Touradas, budismo e religião | 20 de janeiro de 2012

A noite havia chegado, e com ela, a calmaria do mar. O dia fora cansativo e o calor, sufocante. Agora, descansavam. Corto apoiava a nuca com as mãos trançadas atrás da cabeça. Deitado, controlava sem dificuldades o leme do barco com os dedos do pé direito. Podia navegar até dormindo! Vez ou outra abria um olho apenas, checava, lá no alto, a posição do Cruzeiro do Sul, e voltava a cochilar. O veleiro estava em boas mãos! Gonzalo, por seu lado, observava as águas escuras à sua volta, com os dois braços levemente encostados no parapeito da popa. Apenas uma lâmpada iluminava a embarcação: um pequeno ponto de luz amarelada no oceano infinito. [leia mais]

O sapo Gonzalo foge do Carnaval | 17 de fevereiro de 2012

Barulho, confusão, multidões, ziriguidum, balacobaco, telecoteco, confete, serpentina, marchinhas, rei momo, escolas de samba, mestre-sala, porta-bandeira, reco-reco, cuíca, charangas e agogôs. Que horror! O sapo Gonzalo sempre detestara o Carnaval, e com o passar dos anos sua rabugice aumentara o suficiente para lhe causar uma úlcera no estômago só de pensar na possibilidade de ter de esbarrar no meio da rua com centenas de bêbados desocupados usando fantasias exóticas e dançando como pavões em frente a loiras siliconadas, tão inteligentes quanto orangotangos. Ao primeiro som dos tamborins, nosso contestador e mal-humorado sapo argentino sempre fugia para algum lugar isolado, para não precisar encontrar uma pessoa sequer durante vários dias. Nunca tivera um celular na vida, muito menos Twitter, Blackberry, iPod, iPad, iPhone ou Facebook. Odiava todas as bugigangas e novidades tecnológicas. Não tinha ideia como funcionavam, nem tinha vontade de aprender. Tudo bem… Se pudesse, seria como um de seus ídolos literários, J. D. Salinger. Ou o escritor Dalton Trevisan. Sumiria de uma vez por todas das vistas do público. Ninguém o encontraria. Sua vontade era passar o dia inteiro deitado numa rede entre dois coqueiros, numa ilha paradisíaca perdida em algum canto mundo. Ou, quem sabe, ficar sentado sobre a areia branca e fina de alguma praia longínqua, sozinho, apenas olhando para o mar.   [leia mais]

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Já está à venda em versão eletrônica (ebook) o livro de Luiz Bernardo Pericás publicado pela Boitempo Editorial, Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, disponível no Gato Sabido e na Livraria Cultura.

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Luiz Bernardo Pericás é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México). Foi Visiting Scholar na Universidade do Texas. É autor, pela Boitempo, de Os Cangaceiros – Ensaio de interpretação histórica (2010). Também publicou Che Guevara: a luta revolucionária na Bolívia (Xamã, 1997), Um andarilho das Américas (Elevação, 2000), Che Guevara and the Economic Debate in Cuba (Atropos, 2009) e Mystery Train (Brasiliense, 2007). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.

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