Esplêndidas irrelevâncias

Por Roniwalter Jatobá.

Como o personagem Roberto, vivido pelo ator argentino Ricardo Darín no belo filme Um conto chinês, sou um compulsivo colecionador de recortes de jornais. Diariamente, ao ler os periódicos, tenho sempre uma tesoura à mão, para separar notas interessantes, até mesmo aquelas que o escritor norte-americano Bill Bryson denominou de “esplêndidas irrelevâncias”.

– Isso só junta poeira – criticou alguém outro dia.

Faço pouco caso.

– Deixa aí. Uma hora servem para alguma coisa.

Eis aqui três histórias.

Sortear uma égua foi a solução encontrada por duas professoras de um colégio estadual em Itaguajé, no Paraná, diante da dificuldade de seus alunos em ter acesso a livros. Com o dinheiro arrecadado na rifa, elas compraram 250o brasliterárias e inauguraram a biblioteca da escola. A iniciativa foi a primeira colocada na quinta edição de um concurso que escolhia os melhores programas de incentivo à leitura junto a crianças e jovens, promovido por órgãos do governo federal. O programa vencedor, intitulado “Uma égua por livros”, foi inscrito pelo pai de um aluno que quis homenagear as professoras Lúcia Melo e Marisa Tamamaru.Por sinal foi Marisa que, em 1998, doou sua égua para a rifa.

No quintal de sua casa, no Jardim Carmelo, em Guarulhos, o ajudante de cargas, Irso Alves de Souza, vem cultivando uma horta com oito pés de couve gigante. Chegam a alcançar seis metros de altura. Segundo o “agricultor”, o segredo para o cultivo da espécie com desenvolvimento extraordinário pode estar no cuidado que ele tem com as plantas e o adubo que prepara: esterco de gado, de galinha e pó-de-serra.

Na terceira história, dois jovens de 20 anos, totalmente embriagados, perambulavam pelo aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, à procura de um banheiro. De repente, viram um ônibus parado e subiram a bordo. De imediato, foram levados para um avião da Lufthansa com destino a Moscou.

– Eles entraram, sentaram na parte traseira do avião e não foram notados por ninguém – explicou o responsável pela segurança do aeroporto.

Ao chegarem a Moscou, ainda não totalmente sóbrios, eles se deram conta de que não tinham passaportes nem vistos de entrada. Foram, então, postos num voo de volta pela polícia russa. Em Frankfurt, foram acusados pela Polícia Federal de Fronteiras de violar a lei ao viajar sem documentos. Um porta-voz da Lufthansa disse que a empresa estava intrigada.

– Não temos ideia de como eles chegaram ao ônibus sem terem passado por uma checagem de segurança. E também como permaneceram no avião sem serem vistos pelo pessoal de bordo. O problema maior é que os dois também não se lembravam como chegaram até lá.

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Roniwalter Jatobá nasceu em Campanário, Minas Gerais, em 1949. Vive em São Paulo desde 1970. Entre outros livros, publicou Sabor de química (Prêmio Escrita de Literatura 1976); Crônicas da vida operária (finalista do Prêmio Casa das Américas 1978); O pavão misterioso (finalista do Prêmio Jabuti 2000); Paragens (edidado pela Boitempo, finalista do Prêmio Jabuti 2005); O jovem Che Guevara (2004), O jovem JK (2005), O jovem Fidel Castro (2008) e Contos Antológicos (2009). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.

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