O furacão Žižek

Por Emir Sader.

Ele não passa impunemente por nenhum lugar. Ninguém o assiste ou o lê impunemente, também. Por aqui não foi diferente. Ninguém pode ficar indiferente, concorde, discorde ou simplesmente se escandalize com o que ele diz. Autor indispensável é assim.

Difícil fazer um balanço de conteúdo das exposições do Žižek na sua passagem pelo Brasil. Se poderia perguntar a cada um que afirmação mais mexeu com ele, teríamos uma enorme diversidade de teses, todas perturbadoras, angustiantes, conclusivas ou questionadoras. Ninguém combate mais e melhor o pensamento único do que ele, abalando certezas e consensos estabelecidos.

Aí vão algumas sugestões de afirmações mais perturbadoras, todas tiradas de Primeiro como tragédia, depois como farsa:

– Quando a revolução ocorre, deve ser a uma distância segura: Cuba, Nicarágua, Venezuela… de modo que, embora meu coração se anime a pensar nesses eventos, eu possa dar continuidade à minha carreira acadêmica.

– O fascismo e o stalinismo não seriam os monstros gêmeos do século XX que nasceram, num caso, do esforço desesperado do velho mundo para sobreviver e, no outro, do esforço abastardado de construir o mundo novo?

– A única coisa realmente surpreendente na crise financeira de 2008 foi a facilidade com que se aceitou a ideia de ter sido um fato imprevisível que, do nada, atingiu os mercados.

– A União Europeia subsidia cada vaca com cerca de 500 euros por ano, mais do que o PIB per capita do Mali.

– Para usar termos marxistas antiquados, a tarefa central da ideologia dominante na crise atual é impor uma narrativa que atribua a culpa do desastre não ao sistema capitalista global como tal, mas a desvios secundários e contingentes.

– Este homem parece um idiota corrupto, age como um idiota corrupto, mas não se engane: ele é um idiota corrupto. (Usando piada dos Irmãos Marx para falar de Berlusconi)

Chega, ficamos por aqui, como mostra dos ventos que esse tsunami esloveno nos trouxe.

Estou propondo um twitcam daqui a algumas semanas – para dar tempo para que leiam – sobre este livro dele: Primeiro como tragédia, depois como farsa. Avisarei por aqui, pelo Facebook, pelo Twitter e pelo Blog.

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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Paulicéia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo semanalmente, às quartas-feiras.

1 comentário em O furacão Žižek

  1. Paulo Souto // 30/05/2011 às 2:44 pm // Responder

    Zizek é de fato um pensador original, o que existe de mais radical e instigante nos dias que correm. Merece aplausos a iniciativa da Boitempo (com parceiros no Rio e SP) de trazê-lo uma vez mais ao Brasil. Fico no aguardo desse twitcam. Abraços do Paulo

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