Uma outra visão da história do império

Howard Zinn

Por Emir Sader.

Os EUA são, há já pelo menos um século, o país que mais influencia os destinos do mundo. No entanto, o conhecimento que temos dos EUA é muito precário, mais além dos mitos que eles mesmos propagam – por Hollywood e pela mídia. Quase não há boa bibliografia, sobretudo critica, sobre o tema.

Aquela que é a melhor historia sobre os EUA, o Uma história do povo dos EUA [A People’s History of United States], do grande historiador recentemente falecido Howard Zinn, um volume que, na sua derradeira versão tem 650 páginas, precisa ser publicado no Brasil.

“Não há país na história mundial em que o racismo tenha tido um papel tão importante e durante tanto tempo como nos EUA”, afirma Zinn, na abertura do segundo capítulo. “Nas colônias inglesas, a escravidão passou rapidamente a ser uma instituição estável, a relação trabalhista normal entre brancos e negros. Junto a ela se desenvolveu esse sentimento racial especial – seja ódio, seja desprezo, piedade ou paternalismo – que acompanharia a posição inferior dos negros na América durante os 350 anos seguintes – essa combinação de traço inferior e de pensamento pejorativo que chamamos ‘racismo’.”

Um país que se fundou baseado na expulsão e dizimação das populações indígenas e no trabalho escravo em massa, só poderia cultuar a superioridade dos brancos colonialistas, para poder justificar essas barbaridades, cometidas em nome da civilização.

O livro de Zinn vem desde a chegada dos primeiros colonizadores às terras que chamariam de América as eleições de 2000 e a “guerra contra o terrorismo” de Bush, passando pela colonização interna, pela independência, pela continuidade da escravidão, pela construção do império norte-americano no mundo e sua hegemonia mundial. Tudo do ponto de vista do povo norte-americano e das suas lutas.

A história dos EUA é realmente excepcional. Eles saem de ser uma colônia da maior potencia colonial para, em pouco tempo, se transformarem em uma nova potência imperial, a primeira no mundo, superando a própria Inglaterra. Sem entender a forma como se deu esse movimento, pode-se ser vítima dos mitos que a ideologia imperial difundiu, que faria desse país portador de um destino manifesto de levar a democracia para o resto do mundo.

O livro de Zinn permanece como a melhor leitura para desmistificar esses mitos e olhar essa história como a história de lutas do povo norte-americano.

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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Paulicéia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo semanalmente, às quartas-feiras.

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