“O 18 de brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx

Texto de Ruy Braga sobre a publicação

Passados quase 160 anos de sua publicação original, por que razão um livro dedicado à história do golpe de Estado que colocou um ponto final na curta (de 24 de fevereiro de 1848 a 2 de dezembro de 1851) experiência da Segunda República na França ainda despertaria interesse? Em primeiro lugar, O 18 de brumário de Luís Bonaparte representou nada menos do que a confi rmação do marxismo como instrumento científi co de análise social. Afinal, após descobrir, em A ideologia alemã (1846), os fundamentos praxiológicos da concepção materialista da história, desdobrando-os em um programa político revolucionário endereçado ao proletariado mundial (Manifesto Comunista, 1848), ainda faltava ao marxismo recém-inventado explicar a contento a natureza íntima dos fenômenos sociais concretos.

E, colocado à prova, o marxismo revelou-se uma teoria insubjugável. Superando a historiografi a liberal que, ignorando a determinação dos conflitos sociais pelos interesses das classes, concentrava-se na ação de indivíduos e de pequenos grupos para compreender as transformações da cena política, Marx soube não apenas perscrutar a mecânica totalizante da crise que levou à confl agração da República Social francesa e abreviou a “Monarquia de Julho” encabeçada por Luís Filipe, mas, ao mesmo tempo, soube antever a estrutura triangular que as lutas de classes assumiriam no século posterior. Diante do “perigo” da revolução proletária e da crise do regime constitucional burguês, levanta-se, anunciando a era de violinistas diletantes e pintores desprovidos de talento artístico, porém hábeis em galvanizar massas inorgânicas, um abobalhado Bonaparte…

No intuito de apreender o sentido do colapso quase instantâneo da vacilante República Social francesa, Marx saberá preencher com músculos vistosos a ossatura de sua teoria do Estado esboçada em obras anteriores, além de deixar para a geração ulterior de revolucionários socialistas decisivas indicações acerca da relação da classe operária com os camponeses e da necessidade de uma direção politicamente capaz de assumir as tarefas da Revolução Social. E, no momento em que variantes democráticas “bonapartistas sui generis” despertam do pesadelo neoliberal na América Latina, nada melhor do que redescobrir a obra que sedimentou as bases de todo um precioso debate político e acadêmico.

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Com a publicação dessa importante obra para os estudos do pensamento marxiano, a Boitempo Editorial atinge o marco de dez volumes lançados pela Coleção Marx e Engels, sempre em traduções diretas do alemão, com a participação de especialistas nos fundadores do marxismo e um aparato editorial que faz de seus livros uma referência no país.

A coleção teve início com a edição comemorativa dos 150 anos do Manifesto Comunista, em 1998. Em seguida foi publicado o livro A sagrada família, em 2003, obra polêmica que assinala o rompimento definitivo de Marx e Engels com a esquerda hegeliana. Os Manuscritos econômico-filosóficos (ou Manuscritos de Paris) vieram na sequência, ao qual se seguiram os lançamentos de Crítica da filosofia do direito de Hegel; Sobre o suicídio; A ideologia alemã (completa); A situação da classe trabalhadora na Inglaterra; Sobre a questão judaica; Luta de classes na Alemanha e, agora, O 18 de brumário de Luís Bonaparte. O próximo lançamento da coleção será A guerra civil na França, em comemoração aos 140 anos da Comuna de Paris.

Vale lembrar que, simultaneamente ao lançamento de O 18 de brumário de Luís Bonaparte, a Boitempo lançou a Coleção Marx e Engels em versão digital. Para mais informações sobre os títulos da Coleção, visite nosso site.

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