Kollontai: desfazer a família, refazer o amor
Figura importante na Revolução Russa de 1917, Aleksandra Kollontai foi pioneira do feminismo socialista e a primeira ministra de Estado do mundo contemporâneo. Kollontai: desfazer a família, refazer o amor, de Olga Bronnikova e Matthieu Renault, é uma biografia que recupera a vida e a obra dessa revolucionária russa, com destaque para suas críticas às relações de gênero. Os autores apresentam as dificuldades que Kollontai enfrentou no partido referente às questões sobre as mulheres e não deixam de mostrar aspectos contraditórios da biografada.
O livro explora até que ponto, para Kollontai, a emancipação das mulheres depende fundamentalmente da abolição da família e das relações de propriedade. A partir dessa ideia, surge uma reinvenção radical do amor e da sexualidade e, especialmente, da coletividade das tarefas reprodutivas, começando pela maternidade e pelo cuidado com os filhos.
Antes de a contrarrevolução sexual varrer os avanços pós-1917, Kollontai foi figura central em importantes decisões, como o direito ao aborto e ao divórcio. Sua trajetória política sempre foi contrária ao senso comum de que questões relativas ao gênero deveriam ser problemas periféricos: “Kollontai não deixaria de demonstrar que a luta pela igualdade homens-mulheres no plano econômico e social e a reinvenção das formas do amor e da sexualidade eram indissociáveis, e que sua trama delineava um programa revolucionário completo, dotado de uma autonomia que não impedia – ao contrário, pressupunha – sua articulação estreita com as ‘tarefas do proletariado’. Por essa razão, a satisfação dessas reivindicações não podia ser adiada eternamente sem comprometer o futuro do próprio comunismo”, escrevem Bronnikova e Renault no prólogo.
A revolução das mulheres
Uma coletânea histórica de escritos femininos da Revolução Russa de 1917, enfatizando a igualdade de gênero na luta pela emancipação. Feito inteiramente por mulheres, é uma antologia que destaca as conquistas e os desafios contínuos.
Em 8 de março de 1917, uma manifestação reuniu, na Rússia, mais de 90 mil mulheres contra o tsar Nicolau II e a participação do país na Primeira Guerra Mundial. O evento, que também exigia melhores condições de trabalho e o fim imediato da fome que se alastrava pelo país, tomou proporções inimagináveis e culminou na chamada Revolução de Fevereiro, um prenúncio da Revolução de Outubro, que derrubou o tsarismo, deu o poder aos sovietes e levou à construção da URSS.
Lançado na ocasião das comemorações do centenário dessa data incendiária, A revolução das mulheres, esta é uma antologia com dezenas de artigos, atas, panfletos e ensaios de autoras russo-soviéticas produzidos nesse contexto de convulsão social e política. Nesses textos de intervenção e reflexão sobre a condição e a emancipação da mulher, destaca-se sobretudo a importância da igualdade entre os gêneros na defesa da classe trabalhadora: a separação entre mulheres e homens interessava apenas ao capital, para a Revolução a luta deveria ser conjunta.
A leitura, que percorre temas como feminismo, emancipação, trabalho, luta de classes, família, leis e religião, permite distinguir que houve, de fato, a conquista de direitos desde então, mas também demonstra que diversos critérios desiguais continuam em vigor, o que torna os textos, apesar de clássicos, mais atuais do que nunca. A coletânea vem acrescida de fotografias das autoras e de cenas da Revolução.
Este é um livro feito integralmente por mulheres, da capa à edição, passando pela preparação, revisão e diagramação. A organização é da pesquisadora Graziela Schneider, e os textos foram traduzidos diretamente do russo pela primeira vez no Brasil.